quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aventurando-se a ser pai, num mundo machista

Um dos "machos" lá de casa ;o)


Bom, comecemos assim: o relato que você está prestes a ler, não é uma tentativa de invadir,  desconsiderar ou tampouco desmerecer o universo feminino, principalmente num tema tão delicado que é a maternidade. Que isso fique bem claro, para que você leia esse texto sem “pedras nas mãos”.
Dito isso, vamos ao desabafo: preconceitos existem e o mundo não é perfeito, ponto. De exclamação! Vivemos num mundo machista e preconceituoso contra tudo o que é diferente do padrão tido como ideal. Como não perco essa mania de me colocar no lugar dos outros, vejo o preconceito como uma faca de dois gumes, onde ambos os lados sofrem pressão, claro que em menores proporções. Eu enquanto negro, por exemplo, sofro os pequenos preconceitos do dia a dia (que juntos ficam enormes), e sigo lutando para que o Téo viva num mundo mais igualitário, mas penso que existe pressão também se você for caucasiano, do sexo masculino, de olhos azuis, heterossexual, magro e cristão: já pensou se você “não dá certo”, sendo o “modelo de referência” para todo um sistema constituído? O mundo foi feito pra você brilhar, mas você não brilha, e suprir essas expectativas meu amigo também não deve ser fácil.

Enfim, um desses parâmetros lamentavelmente idiotas tido como padrão de comportamento num mundo machista é de que homem não chora, não lava louça, não arruma a casa, não cuida dos próprios filhos, não troca refil do odorizador do vaso sanitário e por aí afora. Pré-conceitos pipocam por aí por qualquer coisa e cabe a nós mudarmos esse cenário.  Num mundo machista é complicado ser um pai "contra a maré", até porque a mudança de comportamento e mentalidade é muito recente e, muito provavelmente, você fará coisas que seu pai não fazia. E isso não é um julgamento e sim uma constatação. Deixemos a abstração e vamos ao campo prático: seu pai trocava fraldas, por exemplo?
Bom, eu troco. Mas se vou a um restaurante, a um teatro, a um cinema, a um shopping center, dificilmente terei acesso a um fraldário, por que adivinhem, sou homem. E trocar fraldas é coisa de mulher. Minha nossa, quando penso no atraso que é, ainda hoje pensarmos dessa maneira, chega a me dar um desânimo. Prédios antigos até se aceita vai, época diferente, início dos movimentos de igualdade, mas um prédio novo, com fraldário no banheiro feminino, é uma ofensa. Não foram raras as vezes em que eu e a Sherol procuramos um lugar para trocar o Téo, e lá estava ele, escondido no banheiro feminino.  Mas a situação é ainda pior. Existem estabelecimentos, com sites na Internet, que ao enumerarem suas “vantagens”, colocam: Ambiente agradável, com ar-condicionado, estacionamento próprio, banheiro masculino, banheiro feminino com fraldário, etc. Peralá, caso você não tenha percebido querido estabelecimento comercial, isso é um atraso, não conte vantagem de algo assim.
Mas não para por aí não. Vai a qualquer loja de roupas infantis e compara a quantidade de roupas para meninas e a quantidade de roupas para meninos. Ok, aceito que as meninas tenham mais acessórios (brincos, tiaras, etc), mas fora isso, porque a quantidade de roupas para meninas é infinitamente maior do que para meninos? Depois pipocam as pesquisas dizendo que as mulheres são extremamente consumistas, mas pelo que vejo, elas são educadas para isso.

Para resumo da história, volto ao ponto inicial. Não estou levantando a bandeira de que homens sofrem por viverem num mundo machista. Estou dizendo que preconceito, é sempre ruim para ambos os lados. Seja homem num mundo machista e você nunca estará livre para chorar em público, não receberá a carinha de gratidão do seu filho por trocá-lo no Shopping e o vestirá sempre com as mesmas roupinhas básicas que as lojas ofertam, sem nem um terço das opções que as meninas possuem, entre outras situações claro que poderiam ser ilustradas aqui, mas creio já ter deixado claro meu ponto de vista.
Fico imaginando, com um misto de bizarrice e indignação, se por ventura a tarefa de cuidar do Téo e da casa fosse exclusivamente da Sherol. Quinta a noite, 22hs, ela chega em casa e o Téo está cagado há pelo menos 3hs, pois eu e ele chegamos as 19hs. E com fome. Mesmo tendo chegado em casa com ele antes da mamãe, não dei banho, não dei comida e muito menos atenção, pois isso é coisa de mulher. Depois que ela entra, é bom se virar com o Téo rapidinho pois apesar do jantar sair atrasado, ainda espero pacientemente por ele, senão a briga vai ser feia. Gente, pelamor...

Não estar sensível ao sentimento dos outros, ser intolerante, egoísta, é o que mais mina um relacionamento na minha opinião. Atitudes machistas não entram lá em casa, pelo menos não conscientemente. Não só para o bem do Téo, mas do nosso relacionamento também. Há dias atrás vi uma frase que você também já deve ter ouvido: "Antes de deixar um mundo melhor para os seus filhos, que tal deixar filhos melhores para o mundo?"

Já estou fazendo a minha parte.